Jardim

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Minha mãe colocou plantas no meu apartamento e me lembra de regar todos os dias. Isso ancorou minha rotina aos cuidados com as folhas, a coloração dos caules e a umidade da terra. Laços foram atados naturalmente. Agora, começo a sentir verdadeiro afeto vendo o verde saudável da incidência correta de luz, e recebo brotos com celebrações caricatas em um evento só meu.

Criei essa ligação delicada mas também repleta de leveza querendo abrigo. O chão sempre me pareceu o lugar mais democrático de descanso. Entre folhas no barro, eu recebi aceitação e recarreguei minhas energias com o frescor da vida. A transformação era maior que eu podia prever. Crescemos tanto, as plantas e eu.

A princípio, as mudas desconfiavam das investidas com substratos, sobretudo depois da ação clandestina de patas domésticas. Foi difícil assegurar as boas intenções e as condições de desenvolvimento. “Vamos conseguir. Serei responsável e você graciosa”, cultivamos promessas íntimas em um campo fértil de ensinamentos.

Eu mostrei onde ficava o sol e alguns galhos novos me disseram para ir até a luz. Lembro da quebra forte da sombra dividindo meu rosto, enquanto eles apontavam tímidos o lado certo. Nesse dia refleti sobre a iluminação de todos os ambientes, com muito medo de investigar o interno. Porém, o conselho estava plantado e criando raízes.

Com os passar do tempo, descobri tons e florações que também dizem respeito a minha época do ano. O movimento lógico e encantador da natureza dá esperança às alegrias murchas. Desde então desejo ver esse padrão de fazer cair as estantes rotineiras. Coloco a mão e comparo a cor, talvez, em breve, terei minha primavera.

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